O que é Cálculo?
Cálculo é uma pequena pedra. Médicos ainda usam a palavra cálculo com esse sentido, para descrever sua presença nos rins, por exemplo. Jogar com pequenas pedras, ou "calcular" é uma forma primitiva de aritmética.O Cálculo Diferencial e Integral é uma parte importante da Matemática, diferente de tudo o que o aluno ingressante na Universidade já estudou até aqui: ele é dinâmico. Trata da variação, de movimento e de quantidades que mudam, tendendo a outras quantidades.
As primeiras idéias do Cálculo surgiram na Grécia antiga, há 2500 anos atrás. Naquela época os gregos já sabiam calcular a área de qualquer região poligonal, dividindo-a em triângulos e somando as áreas obtidas. Para o cálculo de áreas de regiões planas limitadas por curvas, eles usavam o chamado Método da Exaustão. Esse método consistia em considerar polígonos inscritos e circunscritos à região. Aumentando o número de lados dos polígonos, eles conseguiam chegar a valores bem próximos do valor real da área. Por exemplo, suponha que quiséssemos calcular a área A de um círculo. Representando por An a área do polígono regular de n lados, incrito no círculo e por Bn a área do polígono circunscrito de n lados, vemos que, para cada valor de n, tem-se
No século XVII viveu o jurista francês Pierre de Fermat (1601 - 1665), um jurista francês que se dedicava ao estudo de Matemática nas horas vagas. Com os instrumentos da Geometria Analítica que ele mesmo desenvolveu (antes mesmo de René Descartes), Fermat estudou funções, tendo encontrado um método de determinar máximos e mínimos de funções analisando os pontos do gráfico em que a reta tangente é horizontal.
As idéias de Fermat foram depois ampliadas e aprofundadas pelos ingleses John Wallis (1616 - 1703), Isaac Barrow (1630 - 1677) e Isaac Newton (1642 - 1727) e pelo alemão Gottfried Leibniz (1646 - 1716). O próximo passo importante para o desenvolvimento do Cálculo foi dado por Barrow que criou um método de achar a reta tangente ao gráfico de uma função em um ponto P. Tendo as coordenadas do ponto P, era necessário achar apenas qual o coeficiente angular (inclinação) da reta tangente. Mas como?
Tomando-se outro ponto Q sobre o gráfico, calcula-se a inclinação mPQ da reta PQ, que é secante ao gráfico. Depois aproxima-se o ponto Q do ponto P. Com isso, a inclinação da reta secante aproxima-se da inclinação m da reta tangente. Novamente aqui aparece a noção de limite: a inclinação da reta tangente é o limite das inclinações da reta secante PQ, quando Q tende a P. Escrevemos
Note que em cada um dos problemas acima mencionados, o cálculo de uma quantidade é feito como limite de outras quantidades mais fáceis de calcular. É essa a idéia básica que permeia o Curso de Cálculo Diferencial e Integral. Entretanto, os matemáticos antigos lidaram com essa idéia de aproximações e limites de modo intuitivo por dois séculos. Percebiam a falta do mesmo nível do rigor ensinado pelos gregos antigos para poderem justificar formalmente os procedimentos, e até mesmo evitar contradições e erros que fizeram. Mas a humanidade precisou esperar até o século 19 para que este rigor fosse finalmente encontrado por Augustin-Louis Cauchy (1789 - 1857), que criou uma definição formal de limite. Essa demora de 2 séculos sinaliza a dificuldade de compreensão desse conceito, mas que é a ferramenta básica e indispensável de todo Matemático nos dias de hoje.
O Cálculo Diferencial e Integral nasceu motivado por alguns poucos problemas, mas a abstração e a sofisticação das idéias que a partir dali foram sendo desenvolvidas fez com que ele se tornasse hoje um assunto fundamental, com aplicações não só em Matemática, mas também em Física, Química, Estatística, Economia, e muitos outras áreas do conhecimento. O Cálculo Diferencial e Integral é usado na determinação de órbitas de astros, satélites, mísseis; na análise de crescimento de populações (de humanos, bactérias, ou outra qualquer); em medidas de fluxos (fluxo sangüíneo na saída do coração, fluxo de carros nas estradas, fluxo da água nos canos, etc...); em importantes problemas de otimização, tais como achar as quantidades ideais de produção que minimizam custos, quais as que maximizam lucros; determinar qual a melhor maneira de empilhar pacotes sob certas condições, como construir reservatórios com máxima capacidade e custo fixado, como achar o melhor caminho de modo a minimizar o tempo de percurso, qual o melhor lugar ângulo para se construir um teto com certas características, etc... Por esse motivo, o Cálculo Diferencial e Integral é hoje considerado um instrumento indispensável de pensamento em quase todos os campos da ciência pura e aplicada: em Física, Química, Biologia, Astronomia, Engenharia, Economia e até mesmo em algumas Ciências Sociais, além de áreas da própria Matemática. Os métodos e as aplicações do Cálculo estão entre as maiores realizações intelectuais da civilização, uma conquista cultural e social, e não apenas científica. Esperamos que vocês aprendam tudo isso com interesse e prazer. Leiam os livros recomendados e divirtam-se!
Martha Salerno Monteiro
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